Bonequinha de porcelana


_Eu não quero mamãe-eu gritava enlouquecidamente-a vovó é muito chata.
_Você precisa, a escola da cidade de sua avó é muito melhor-minha mãe com uma voz calma tentava me tranquilizar. Não tive outra escolha, era a casa da vovó ou nada. 
Foi uma long viagem, eu não queria morar com uma velha de cabelos brancos, cheia de rugas, afinal eça não me deixava fazer nada, eu era a netinha da vovó, intocável e frágil como uma bonequinha de porcelana. Ah! Como eu odiava essa posição, eu não era assim, mas ela insistia e persistia.
_Minha netinha, há quanto tempo!?-foi a primeira frase que me disse-me encostando com aquelas mãos ásperas. Eu não disse nada. 
Aquela comida caseira me causava náuseas, o artesanato me causava espanto e as roupas, essas sim, me causavam crise de risos. 
Se eu pudesse, voltaria no tempo só para falar que essa velhice era sua maior riqueza, seus cabelos brancos eram seus fios de ouro, suas rugas eram joias, suas mãos ásperas sua virtude, sua comida era seu cheiro, seu artesanato sua habilidade e as roupas sua personalidade imbalável. 
Eu queria que ela me ouvisse agora, mas o cemitério não é o lugar que eu sonhei que isso acontecesse. Por que eu não falei isso antes? Por que ela não esperou para me ouvir?
Me arrependo de não ter crescido antes. Eu só queria falar que eu vou continuar sendo a netinha da vovó, a sua única bonequinha de porcelana para sempre. 

Comentários

  1. Que lindo Carol!
    Eu praticamente fui criada pela minha avó. Meus pais sempre trabalharam muito então minha avó cuidou de mim até os meus 7 aninhos. Ela é minha jóia. A avó mais bonita e mais nova que eu conheço (apenas 57 aninhos). Amo demais e a cada aniversário fico feliz por mais um ano que passo com ela! Lindo texto!
    Tenha uma ótima noite e um restinho de semana maravilhoso!!
    Super beijos... Tety
    bloguedatety.blogspot.com

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  2. adorei o textinho e novo designer do blog, parabéns

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  3. É sempre assim. Graças a Deus ainda tenho a oportunidade de ter minhas 2 vós vivas, acho que elas são minhas outras mães. Grande parte da vida passei com elas, grandes aprendizados, nunca ignorei-as ou desgostei delas, muito pelo contrário, admiro-as muito, mas esse post me fez perceber que só depois de perder é que agente valoriza. Adorei o post :)

    www.blogmundodamoda.com

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  4. Que texto fofo, gostei mt carol! E o novo designer do blog ficou bem bacana também.. bjs ^^

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