Reflection: Estrema-unção de uma mãe

Mais uma briga. Era a terceira nessa semana, não aguentava mais. Sai correndo entre empurrões e murros. Meu rosto encharcado de sangue, meu marido havia me batido e a única coisa que procurava era proteger meu filho, meu inocente filho, tão pequeno dentro de minha barriga. 

Sai andando pelas ruas, perdida dentro e fora de mim, estava escuro como um eclipse, mas o eclipse demora poucos minutos e a noite parecia demorar séculos. O que estava fazendo, não tinha onde ficr, quem recorrer. Era eu e meu inocente filho por vielas e becos. 

Sem mais forças, sentei com o rosto entre as mãos, encolhida em minhas fobias, envolvida em uma tempestade de lágrimas. Meu filho não poderia me sentir assim. Meu coração apertado tentava me dizer algo com calafrios constantes e sensações estranhas corriam pela minha espinha. Fica tranquilo, vai passar meu filho. Minha tentativa de acalmar foi em vão, um vulto, uma sombra cambaleante vinha em minha direção. 

Era ele, continuava bêbado, meu marido me seguiu. Podia ver a raiva estampada em seu rosto. Não conseguia entender como o pai de meu inocente filho pode não o querer. Meu filho não se sinta rejeitado, eu te quero. 

Meu marido segurou forte o meu braço gritando que esse filho não existe. Minhas forças se foram, fui jogada no chão, ele levantou meu vestido como nunca fez, com força, agressividade, seus olhos vermelhos me assustava. Me rebati, me contorci. Era tarde, ele conseguiu. 

Estirada no chão, humilhada, ainda mais ensanguentada. Escondia minha dor em um choro em silêncio. Meu filho, a sua mãe quer te ensinar jamais desrespeitar uma mulher, a sua mãe quer te pedir para esquecer o que aconteceu aqui. Um estrupo não pode ficar na lembrança de meu inocente filho. 

Já havia passado horas, estirada no chão meu sangue latejava. Meus olhos pesavam. Mesmo perdendo o chão, eu o amava, amava meu marido com a fragilidade de uma rosa e a força de uma mãe, ao mesmo tempo o odiava com a fúria de uma labareda de fogo e com o doce veneno da vingança. Clamo a luz divina, porque logo mais meu inocente filho será um anjo. Encontrarei meu anjo no céu. Só assim poderei ser feliz, sendo mãe de uma anjo.