Reflection: Um nada normal


Os anos passaram, meu casamento continuou. O padre, o vestido branco, o tapete vermelho. A minha vida só faz sentido quando as novidades surgem, quando fica eu by me, os dias simplesmente passam, meses, anos, tudo só continua igual, parado. 
Foi assim que meu casamento se estendeu, os dias me corroeram. Sei que a cor dos olhos do meu marido fica entre o verde e o castanho, o cabelo entre o curto e o médio. Fui me desligando desses detalhes, quando o mais importante era fingir que o Sol era diferente a cada manhã, isso era fácil, quando acordava - sem me preocupar com o que já havia saído da cama - vestia uma roupa diferente e me maquiava, a cada roupa me dava o sinal que era um novo dia, a maquiagem moldava o sorriso forçado do meu rosto. 
E sobre aquele que saia da cama sempre antes de me esculpir, ele ficou naquela casa por anos até que desistiu de encenar.
Um dia quando acordei para o meu ritual de novo dia, o café não estava pronto. Depois disso, só me restou ir ao banco todo mês pegar o dinheiro para pagar o mercado. 
Foi assim que os anos continuaram a passar. Envelheci. Esperando alguém me ajudar, quando a verdade a ajuda era eu. A minha auto-aceitação esteve sempre mais relacionada com a aceitação dos outros, meu desejo era entrar em uma multidão e não ser reconhecida, queria fundir o normal a mim. 
A cadeira de rodas não é o assento mais agradável, mas ainda faço tudo o que fiz e sou o que sempre quis:  um nada normal. 

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