Reflection: O que eu descobri só depois


Um pouco de vocação, resiliência, personalidade resistente, capacidade de engagement. Misture tudo numa panela grande com formato de corpo humano e pronto já está apto a ser médico. Foi isso que minha fiel companhia - Porto - falou dia desses no seu livro.
Porto eu sei da sua discrição, mas não precisa mais usar palavras bonitas para me conquistar, não sou mais bobinha. Vou te falar a real. Pra ser médico tem que adoecer. Fisicamente, emocionalmente e psiquicamente.
A gastrite vem com o café que acompanha a anatomia, a cirrose vem com o tanto de álcool que ingere na ilusão de aumentar os pensamentos bons, a tarja preta vem acompanhada dos dias que precisariam ter 30 horas, a depressão vem quando só vê a escrivaninha, livros com mais de 1000 páginas e a parede do quarto. Você vê que a coisa tá mais séria que você imagina quando vê mais a psicóloga do que sua mãe/pai. Nem vou falar de Síndrome de Burnot e do curso que mais tem suicídios. Não quero assustar. Longe disso.
Mas aí vem o primeiro paciente, o segundo, o terceiro. Vem o recém-nascido, a criança, a mulher, o homem, o idoso, a idosa. O diabético, o hipertenso, o fibriomiálgico, o depressivo. Vem o que precisa da emergência, de uma conversa, de um olhar, de um medicamento. Aí tudo some, tudo desaparece, tudo clareia. Tudo se explica.

Porto, desculpe-me discordar de você. Mas, ser médico não se resume em meia dúzia de qualidades e uma nota acima de 800 no Enem.  Ser médico é ser. Sem palavras bonitas, sem enrolação, sem mais nem menos. Simples assim.  

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